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Conversa Anabela Borges
Sintomas De Escritor fevereiro 10, 2013 0
Anabela Borges nasceu em 1970, em Telões, Amarante, onde reside atualmente. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Em 2011, foi vencedora, ex aequo, do prêmio literário "Conto por Conto", com o conto "A Tundra (cemitério de memórias)", com a chancela da Alfarroba Editora.
Em 2012, o seu conto "A Pergunta (fim de linha)" foi considerado o melhor da coletânea "Ocultos Buracos", da Pastelaria Studios Editora, valendo-lhe o prêmio da publicação de um livro da sua inteira autoria (a ser publicado algures na primavera de 2013).
Anabela Borges: Estaria certamente a escrever, porque adoro escrever à tarde
Diga-nos quem é Anabela, a escritora?
AB: Uma pessoa predisposta a aprender sempre mais.
Com que idade começou a escrever?
AB: Comecei adolescente, com 13 anos, com um poema que a minha professora de Português adorou. Daí para a frente, comecei a concorrer a concursos de poesia locais.
O que a levou a escrever pela primeira vez?
AB: Sempre escrevi por gosto e necessidade, tal como faço com a leitura e a pintura.
O que sente ao escrever?
AB: Como referi, escrevo, essencialmente, por necessidade e por gosto. Muitas vezes, sinto uma alegria imensa, outras vezes, uma certa angústia, porque a escrita é um processo solitário que requer disciplina e concentração.
"A mãe não tinha dúvidas de que os sonhos, a par com as memórias e o pensamento, viajavam no tempo. As mães quase nunca têm dúvidas quando é para satisfazer a curiosidade dos filhos. É preciso dar respostas: as mães dão." Anabela Borges em "A vida num sonho"
Qual foi para si o melhor escritor português de todos os tempos?
AB: Se me pedes apenas um, terei de dizer José Saramago!
Qual o livro que leu a marcou mais até hoje? Porquê?
AB: Nunca pensei muito nisso, mas talvez seja o único que, até hoje, me fez chorar, ou seja, já me comovi a ler muitos livros, mas chorar só chorei com um. Trata-se do livro "Sem Destino", do Prêmio Nobel húngaro Imre Kertész. O tema é o Holocausto (kertesz é judeu) e retrata a vida de um rapaz de 15 anos que vivia numa determinada zona de Budapeste em meados de 1943, que depois foi levado para os campos de concentração de Auschwitz, Buchenwald e Zeitz. O livro apresenta uma descrição extremamente cadenciada, numa história que dura um ano e meio, que parece uma vida inteira, relatada pelo rapaz de 15 anos. É extremamente comovente.
O que pensa da nova geração de escritores em Portugal?
AB: Há de tudo - essa é a realidade - bons e menos bons. Nem tudo o que vende bem pode ser considerado literatura de qualidade, mas, atenção, há uma vaga de muito bons escritores.
Que mensagem daria a esses escritores?
AB: Quem sou eu... Mas poderia dizer para lerem muito, pois a leitura é a base de uma boa escrita. E lerem, inclusivamente, o que escrevem, em voz alta, para verem se lhes soa bem, se é isso que gostam de ler... Isto para principiantes, é claro, que para escritores com a sua obra mais do que atestada pela crítica diria apenas: "continua a surpreender-me!" (porque a escrita/leitura, para mim, tem de ser um desafio).
Se fosse ministra por um dia, qual ou quais as medidas que adotaria imediatamente ao nível da literatura?
AB: Baixava o preço dos livros, porque são muito caros.
Qual a mensagem que gostaria de deixar aos seus leitores?
AB: Nunca deixem de comentar o que escrevo e deem-me sempre sugestões, porque quero aprender com os leitores.
Qual era o seu sonho de criança?
AB: Tantos, tantos! Acima de tudo, tinha uma imaginação fértil e sempre sonhei ser feliz.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria?
AB: Não sei. Sou feliz, como sonhei. Não olho muito para trás.
Qual o elogio mais gratificante que já recebeu?
AB: Em termos de escrita? Dizem-me coisas giras, como "grande", "ilustre", "maravilhosa", mas... sou pequenina... e gosto de dar um passo de cada vez.
Se pudesse escolher um local para viver toda a sua vida, onde escrever os seus textos, qual o local que escolheria?
AB: Escolheria um local com vista para o mar, envidraçado por causa do vento e do frio.
Qual a pessoa que a marcou mais até hoje, qual o herói da sua vida?
AB: A pessoa que me marcou mais na minha vida foi, sem dúvida, a minha mãe. Os meus heróis ficaram algures nos anos 80. Há um tempo para tudo. Acho que não tenho heróis, porque ninguém é perfeito.
Qual a frase que lhe disseram a marcou mais até hoje?
AB: "Mãe, amo-te muito."
No dia em que partir, qual a imagem que gostaria ficassem de si enquanto escritora?
AB: Nada de especial. Espero que as pessoas gostem, hoje, do que escrevo, e se isso vier a ter alguma utilidade no futuro, tanto melhor. Quero que me recordem pela pessoa sempre fui.
Se pudesse deixar um mensagem que fosse ser lida daqui a 100 anos, qual a mensagem que deixaria?
AB: Uma mensagem que tenho num poema, como que a dizer "carpe diem":
"Do passado
ficam as lembranças,
as alegrias e tristezas,
o rancor e os arrependimentos,
as angústias, a sanha,
o gáudio,
os silêncios, a indiferença,
as saudades...
tudo coisas que a vida traz...
mas o tempo,
esse ser especial,
não mais voltará atrás."
(Anabela Borges)
O que dizem os seus textos?
AB: Escrevo histórias com lugar para a reflexão e quase sempre com um fator surpresa. Procuro retratar aspetos da condição humana, bons e maus, mas sobretudo os maus, para levar os leitores à reflexão.
A PRIMAVERA DA VIDA
"Lembraremos todas as primaveras,
com cada rosa que floresce,
cada girassol que se abre,
ao sol,
com cada coroa imperial que,
delicada,
desabrocha.
E pensamos que o mundo
é esse lugar lindo...
até vermos pessoas
a fazerem coisas feias - constantemente.
É assim a primavera da vida:
as pessoas irrompem
erráticas, espontâneas e imprevisíveis,
como irrompe da terra a Natureza.
Algumas mentem,
as pessoas irrompem
erráticas, espontâneas e imprevisíveis,
como irrompe da terra a Natureza.
Algumas mentem,
para não perderem aqueles que amam,
outras são agressivas,
porque temem o dia de amanhã,
outras, ainda, erguem barreiras,
porque se arrependem de algo.
Todos temos um motivo
para as coisas menos bonitas que fazemos.
O segredo é que, quando descobrimos o porquê, podemos sempre tentar impedi-lo."
Texto: Palavras Regionais | Imagens: Anabela Borges
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