Conversa Pedro Barão Campos

Pedro Barão CamposPedro Barão de Campos tem 29 anos, é professor do Ensino Básico, num Colégio em Alfragide.
Ao longo dos últimos 10 a 12 anos tem participado de forma direta e indireta em vários projetos relacionados com a escrita.
Colaborou em vários sites, publicando ainda alguns artigos em revistas e jornais.
Em 2002 foi um dos co-autores do livro "Poesi@", obra resultante da sua participação na comunidade "Sonhos de Poeta".
Tem participado em várias outras comunidades poéticas e grupos artísticos: SaneSociety, Poetas Del Mundo, Luso Poemas e Influxos

Diga-nos quem é Pedro Campos, o escritor?
Pedro Campos: É alguém que procura criar mundos, narrativas e imagens quase cinematográficas, através da escrita poética de teor mais filosófico.
A escrita que faço é preenchida, em grande parte, por palavras simples. Uma escrita acessível a todos e que acima de tudo reflete sobre o existir e as grandes interrogações humanas.Embora não tenha uma linha de orientação temática restrita (na prática, penso que devo ter a liberdade para escrever sobre qualquer assunto) ou uma estrutura formal a que obedeça, tento manter determinadas características comuns a praticamente tudo o que escrevo.

Com que idade começou a escrever?
PC: Comecei a escrever por volta dos 12 anos de idade. Textos ainda muito ingênuos mas que se construíam já baseados nas reflexões em que viajava: as paixões, o amor, a consciência do fenômeno do sofrimento psicológico e a sua relação com o sofrimento físico, sobre o meu entendimento da morte e da inexistência e claro, sobre a natureza.Aliás, os elementos e as formas da natureza estão presentes em praticamente tudo o que escrevo.

O que o levou a escrever pela primeira vez?
PC: Não me recordo ao certo nem com pormenor, a primeira vez que escrevi. Mas, quase de certeza, o sofrimento por amor, a febril sensação de estar apaixonado e a intensidade com que sempre senti a vida.
Talvez, tenha sido isso que me levou a sentir a necessidade de escrever.
Claro que, após começar a escrever, iniciei uma epopeia pelas leituras e pelos autores.
Tentei conhecer a poesia de uma forma mais profunda, talvez para entender o que eram aquelas palavras escritas numa folha de papel, porque surgiam elas, para que serviam, além de me ajudarem a diluir o sofrimento ou a angústia.

O que sente ao escrever?
PC: Isso é uma pergunta de difícil resposta.Escrever foi, em tempos, uma fuga, um escape, talvez. Mas, desde que escrevo de uma forma mais sistemática e consistente, com o amadurecimento, com a vivência de uma multiplicidade de sensações, com a aprendizagem, a leitura, ao longo do caminho, sinto algo semelhante a uma explosão interior.Por vezes, dor, alegria, revolta... Às vezes sou eu que sinto o poema, mas quase sempre, acho que é o poema que me sente a mim.
Sinto a vontade e o desejo de escrever como a sede que se tem. Temos sede, bebemos algo. Estou vivo, entre outras coisas, respiro, sinto e escrevo poesia.

Qual é para si o melhor texto que já escreveu?
PC: Isso é algo que não posso dizer. Tenho milhares de poemas escritos, tenho três romances na gaveta, uma série de outros textos: crônicas, peças de teatro infantil, reflexões, contos... é completamente impossível escolher um. Espero que o melhor texto que já escrevi sejam vários que estejam ainda por escrever. Quero sempre fazer melhor do que o que faço.O melhor texto ainda está por vir.

Quais os seus projetos futuros?
PC: Neste momento ainda estou em divulgação do meu livro "Intensidade".
Durante todo este ano, a promoção deste livro é o principal objetivo.
Mas, felizmente, há muitos outros projetos e iniciativas.
Estou a preparar o próximo livro de poesia.
Que deverá ser publicado algures entre Novembro e Dezembro de 2013.
Até final de Março será publicado e lançado um livro coletivo em que serei um dos muitos autores presentes.
Nos próximos meses será lançado um site / comunidade com recursos, ferramentas, serviços editoriais e de representação para escritores, entre muitas outras funcionalidades.
Claro que, simultaneamente, continuo a escrever muito e a ter a minha profissão de professor, algo que me realiza profundamente.
Até final do ano ou em início de 2014 publicarei também o meu primeiro romance.

Qual foi para si o melhor escritor português de todos os tempos?
PC: O melhor escritor é para mim, algo de demasiado subjetivo e não me sinto com conhecimento e cultura suficientes para poder atribuir esse título a um só escritor. Além disso, seria certamente injusto.
Os escritores que mais me marcaram ao longo do meu percurso têm sido os autores clássicos.
Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Miguel Torga,
Alexandre O'neil
Vergílio Ferreira
Agostinho da Silva
Camilo Castelo BrancoWhalt Whitman, Ary dos Santos, entre outros... Claro que além destes há a referir Homero, Sócrates, Platão, Antoine de Saint-Exupéry e artistas de uma série de outras áreas: pintura, escultura, fotografia e cinema.

Qual o livro que leu o marcou mais até hoje?
PC: Quando tinha 13 ou 14 anos li o livro "Aparição" de Vergílio Ferreira. Foi um livro que marcou o início da minha viagem pela leitura, pelos escritores e que, gradualmente me ajudou a enquadrar a minha escrita.
Além desse livro, sem dúvida, todos os livros com poesia de Fernando Pessoa e seus heterônimos.
Também Goethe. Um outro livro que me marcou muito foi "A Arte da Guerra"
Entre muitos outros.

O que pensa da nova geração de escritores em Portugal?
PC: Quanto à nova geração...
Bem, apesar de já escrever desde os 12, eu ainda só tenho 29 anos. Acho que posso dizer que ainda faço parte da nova geração de escritores, mais ano, menos ano.
Noto alguma dificuldade na penetração do mercado. Ou seja, o mérito do artista, seja músico, seja escritor, artista plástico ou ator, entre outros, dificilmente é reconhecido de forma a traduzir-se na edição, divulgação e publicação desses trabalhos.

Que mensagem daria a esses escritores?
PC: Que tentem, que arrisquem, tal como eu também o tenho feito. Se possível, não desanimem. Sejam escritores por amor à arte, não o sejam à espera de encontrarem a glória e o sucesso, a fama ou uma fonte de rendimento. Sejam ambiciosos, mas estudem, leiam muito, vivam muito, só assim se poderão manter artistas vivos, em evolução.Enviem os vossos textos para as editoras, juntem-se a grupos de escritores e outros artistas, partilhem, troquem ideias, reflitam, sejam humildes, sempre humildes. O que escrevemos são apenas palavras.
Mas as palavras podem mudar tudo...

Se fosse ministro por um dia, qual ou quais as medidas que adotaria imediatamente ao nível da literatura?
PC: Primeiro, acho que não trocaria a minha profissão por qualquer lugar político ou de governação.
Mas, se hipoteticamente, pudesse dar seguimento às minhas ideias ao nível da literatura, talvez tivesse algumas ideias de estratégias ou medidas a considerar.Teria de refletir melhor sobre essa possibilidade e arquitetar medidas realizáveis e que fossem promotoras da cultura, estimulando a criação artística, viabilizando projetos artísticos e culturais de uma forma mais assertiva e eficaz.

Qual a mensagem que gostaria de deixar aos seus leitores?
PC: Quero agradecer o interesse, o feedback e o carinho que demonstram pelos meus escritos. Quero agradecer a divulgação que fazem do meu trabalho e dizer-lhes que espero conseguir continuar a surpreendê-los e que espero, continuem a acompanhar o meu mundo literário.
É sempre saudável conhecer as opiniões diversas de quem nos lê. É também com esses testemunhos de leitores que se torna possível melhorar cada vez mais o nosso trabalho criativo.

Qual era o seu sonho de criança?
PC: Sempre sonhei muito.
E sempre sonhei alto.
Sonhava ser várias coisas: super-herói, bombeiro, polícia, professor, futebolista. Muitos sonhos. Também sonhava ter um piano a sério, daqueles acústicos, entre outras coisas.Acho que, em parte, com muito esforço e trabalho, tenho concretizado alguns sonhos. Sou professor, adoro o que faço. Quando comecei a trabalhar consegui comprar o meu desejado piano acústico.
De certa forma, eu continuo a sonhar e querer ser muita coisa diferente. Todos nós somos várias dimensões. No que escrevo, posso ir além dos limites do possível e do impossível.
Claro, gostaria de continuar a publicar e ter algum sucesso na divulgação e partilha dos meus trabalhos.
Ajudar outros escritores a realizar sonhos.

Se pudesse voltar atrás o que mudaria?
PC: Não sei. Claro, se tal fosse possível, tentaria impedir que determinados acontecimentos negativos tivessem acontecido. Talvez tivesse arriscado mais, procurado divulgar mais o meu trabalho e promovê-lo mais junto das Editoras.

Sente que deixou muito por fazer no passado?
PC: Não. Acho que fiz o que tinha de fazer em determinados momentos. Como todas as pessoas, há sempre coisas de que nos arrependemos de não ter feito, decisões que deixamos de tomar ou atitudes que consideramos serem corretas numa circunstância específica.
Mas, no geral, acho que ainda é cedo para poder avaliar isso.

Qual o elogio mais gratificante que já recebeu?
PC: Gosto de sentir que as pessoas são apreciadoras dos meus poemas. Que a minha escrita provoca algo de fascínio e encanto em quem lê. Quanto aos elogios, não sei. Já me disseram que os meus poemas são intemporais, com profundidade e simplicidade, entre outras coisas. O mais importante não são os elogios, mas sentir que quando são lidos ou ouvidos, os meus poemas encontram um lugar especial nos leitores. Quando assim é, sinto-me feliz.

Se pudesse escolher um local para viver toda a sua vida, onde escrever os seus textos, qual o local que escolheria?
PC: Tenho fascínio por locais com paisagens verdes, rodeados pela natureza, enevoados, místicos, com contrastes entre luz e sombra: talvez uma das ilhas dos Açores, talvez outro qualquer lugar assim ou, quem sabe, pelo mundo todo, em viagem permanente. No fundo, um escritor é sempre um viajante.

Qual a pessoa que o marcou mais até hoje, qual o herói da sua vida?
PC: Por todas as razões, os heróis da minha vida foram e serão sempre aqueles, sem os quais, eu não seria nada: os meus pais e avós.

Qual a frase que lhe disseram o marcou mais até hoje?
PC: Não há nenhuma frase específica que retenha e que possa reproduzir aqui. Todas as experiências de vida que tenho tido têm sido convertidas numa aprendizagem permanente. Essencialmente, tenho aprendido que o bom senso, a humildade, a importância da reflexão e da aprendizagem permanente aliados à dignidade e humanidade ao longo da vida são essenciais para que consigamos ser fiéis a nós mesmos.Do meu ponto de vista, a poesia deve ser feita no dia a dia da nossa vida, não apenas com palavras, mas essencialmente nos gestos e atitudes que demonstramos em cada instante. Essa é, na minha perspetiva, o estádio mais genial da poesia.

No dia em que partir, qual a imagem que gostaria ficassem de si enquanto escritor?
PC: Gostaria que cada leitor pudesse conhecer a minha escrita, senti-la, vivê-la, apaixonar-se por ela, encontrar-se nela e que as ideias que transmito pudessem ser uma fonte de inspiração .

Se pudesse deixar um mensagem que fosse ser lida daqui a 100 anos, qual a mensagem que deixaria?
PC: Lembrar o passado, imaginar o presente, vivê-lo e construir em cada instante o futuro de todos os dias. Procurar em cada momento a realização pessoal, a felicidade e o contentamento. Desejava que conhecessem a minha obra artística e que se fascinem com ela.

O que dizem os seus textos?
PC: Dizem tudo, dizem nada. Não há definição possível para um enquadramento genérico dos meus textos poéticos. Cada um, é uma obra única, incomparável aos restantes.
Dizem que o possível e o impossível acontecem, às vezes, no mesmo tempo e no mesmo espaço. Às vezes, são um só.

"(...)Debaixo de um céu azul profundo 
Sinto o vento a passar por mim e pelas minhas mãos 
quando as ergo em direção ao Sol 
Escuto a voz de um som que sopra por entre a folhagem e produz música... 
Como um piano em que as teclas são as folhas e o pianista 
é o pensamento 
E vejo... a exaltação plena de uma tranquilidade nova 
Vejo a natureza... e sou feliz. (...)"

Excerto do poema "Sonho" de Pedro Barão de Campos

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