Aldeia das Broas - Portugal

Lugares perdidos e lugares esquecidos, onde encontramos a beleza de outros tempos, perdidos entre montes e vales, encontramos a, abandonada, Aldeia das Broas.

Abandonada há mais de 40 anos, esta aldeia medieval permaneceu imutável até aos dias de hoje. Situada entre dois concelhos(Mafra e Sintra e duas freguesias (União de Freguesias de Igreja Nova e Cheleiros e União de Freguesias de S. João das Lampas e Terrugem), fica situada a apenas 40 km de Lisboa, desenvolvendo-se numa encosta orientada para o Vale de Cheleiros onde fluem a Ribeira da Cabrela e o Rio Lizandro, encontra-se rodeada por um grande património cultural natural, nomeadamente sob o ponto de vista de coberto vegetal, de diversos e diferentes afloramentos rochosos e ainda de alguma fauna endémica da zona.

Existem indícios de ocupação humana, nesta zona, que data do período paleolítico.
O primeiro registo histórico das Broas data de 1527, segundo o censo populacional, neste documento ela é denominada de Aldea das Boroas, sendo termo da Vila de Chilheiros.
Segundo um marco geodésico, encontrado na aldeia, esta já pertencia à freguesia de Cheleiros em 1805.

A casa mais recente data de 1888, conforme indica a gravação da pedra que lhe pertence.
No ano de 1950, viviam na aldeia cerca de 25 pessoa ( entre 6 e 7 famílias),  e desde então a população decresceu.Quanto á data do abandono da aldeia, existe uma certa controvérsia, mas estima-se que tenha ocorrido entre 1969, data do terramoto que assolou a zona de Lisboa e 1982.Desde essa data a aldeia nunca mais foi habitada, o que permitiu que a Aldeia preservasse a sua forma original. Após o abandono, em um dos seus lagares, já inativo, serviu como curral para guardar ovinos e caprinos.

Aldeia de difícil acesso, apenas acessível por caminhos de terra batida, apenas transitáveis a pé, de bicicleta ou pequenos veículos motorizados, chegou a ter cerca de 25 habitantes, Broas é uma aldeia tradicionalmente saloia, composta por cerca de 9 habitações, 4 lagares e vários armazéns e currais, existe ainda, na aldeia, um pombal, um poço e a eira. Não apresenta qualquer tipo de edifício religioso, administrativo ou comercial, motivo pelo qual os seus habitantes eram obrigados a deslocarem-se aos lugares vizinhos (principalmente Cheleiros), para realizarem os serviços essenciais e para frequentarem cultos religiosos.

O nome de "Broas" é devido á topografia do local onde se insere, várias elevações crônicas ou broas.

Elemento característico e em abundância no local, a pedra, que justifica o facto de todas as construções serem erguidas em alvenaria de pedra, extraída diretamente do solo.
As habitações são as únicas construções que apresentam dois pisos, todos os rentantes edifícios apenas apresentam piso térreo, as habitações são compostas por casa de fora, quartos e cozinha, onde existe sempre um forno.

Preservado na Aldeia, e elemento que pode ainda ser visto nos tempos de hoje, observamos o freixo, localizado no centro, no coração de Broas, rodeado por bancos de pedra, onde os habitantes se encontravam para conviver e debater assuntos.

Pelos dias de hoje a Aldeia apresenta apenas um esqueleto de pedra, não sofrendo alterações desde a saída do seu último habitante.
No ano de 2009 foi categorizada como imóvel não classificado de interesse patrimonial na revisão do plano diretor  municipal da Câmara Municipal de Mafra. Encontra-se, atualmente, integrada em alguns roteiros culturais e desportivos o que a leva a ter bastante procura por praticantes de atividades ao ar livre.
"Semeava-se lá os terrenos, semeava-se nabos, tinha-se nabos com fartura, até para dar a quem por lá passasse, dava-se nabos, e os nossos carros eram os burros. O dia-a-dia era levantar-se, tratar de vacas, pronto, e mungir, trazer aqui o leite, ou fazer queijos, era a vida assim. Era uma vida triste ... Matava-se uns porquitos, matava-se uns frangos, matava-se uns coelhos, era assim, não havia dinheiro para ir às compras para aqui e para acolá. ... Tinha-se trigo, ia-se ao moleiro buscar farinha e cozia-se ..." - Maria das Dores (uma das últimas moradoras da aldeia)  
Atualmente a Aldeia encontra-se bastante degradada, existindo vegetação a crescer no interior da ruínas, o que provoca a queda de paredes e coberturas, outro dos problemas são o roubo de cantarias em pedra.

Broas não conseguiu acompanhar a evolução dos tempos, não existindo investimento necessário para garantir o conforto básico dos seus habitantes, os acessos danificaram-se o que foi dificultando, cada vez mais a passagem de veículos, e à Aldeia nunca chegaram as infraestruturas básicas, como água canalizada, eletricidade, telefone ou saneamento básico, tudo isto acabou por pesar na decisão dos seus habitantes em abandonarem a Aldeia e procurarem melhor qualidade de vida nos centros urbanos. Os habitantes que abandonaram as Broas, acabaram por se fixar em algumas Aldeias vizinhas como Faião, Cabrela, Cheleiros ou Almorquim, outros partiram para Lisboa e alguns acabaram por emigrar para França.

Já durante o ano de 2020, eis que surge uma nova luz ao fundo do túnel que pode vir a mudar o futuro de Broas, segundo notícias recolhidas existe agora um projeto para exploração turística da Aldeia. Aparentemente já com obras em andamento, as mesmas foram embargadas, por falta de licenciamento...

O futuro é uma incógnita mas a Aldeia precisa urgentemente de intervenção para não cair no esquecimento e desaparecer por entre a vegetação, enquanto as paredes e telhados vão caindo.

Texto e Imagens: Palavras Regionais 

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